gnr: operação stop no coliseu do porto

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Há uma altura na vida em que achamos que a música que os mais velhos ouvem é uma treta, principalmente se for a música que a nossa mãe ouve e que ainda por cima é de uma banda que começou no século passado (como se nós não viessemos do século passado também), muito antes de termos nascido. Não sei de onde vem a sobranceria, mas sei se torna muito engraçado quando, de repente, os gostos se cruzam e temos memória exata do momento em que um álbum de 2002 entrou lá em casa, com uma música que viria a tornar-se uma das nossas preferidas. O álbum chama-se Do Lado dos Cisnes, a música é Morrer em Português. A banda em questão? Os GNR.

A minha história com os GNR

A minha mãe adotou os GNR como banda preferida na adolescência. Lá em casa viviam vários CDs, sim, mas também um dossier forrado com uma série de artigos de jornal e posters. Consigo facilmente contar a qualquer pessoa os momentos iniciais da minha mãe no concerto no Estádio José Alvalade, em outubro de 1992, como se tivesse sido eu a vivê-los. Talvez fosse mesmo inevitável que o gosto passasse para mim.

Claro que não foi uma passagem gradual. Como qualquer pré-adolescente e adolescente com vontade de ter identidade própria, não ouvia GNR por mim, mas sempre um CD tocava lá em casa as músicas cá iam ficando. Acompanhei a minha mãe a vários concertos e, por fim, chegou a altura de ir sozinha a concertos deles (no Casino Lisboa em 2017, no Fórum da Maia em 2023). Já não era preciso outra pessoa pôr CDs a tocar por casa. Quando fui para Lisboa para a universidade, na verdade era eu quem punha os álbuns a tocar no Spotify e parecia realmente que estava em casa.

Os momentos preferidos em concerto — até chegar à Pronúncia do Norte no Porto

É oficial: perdi conta ao número de concertos a que fui. Ainda tentei fazer contas, mas dou por mim perdida e confusa no início da década passada. Sei dizer, no entanto, quais foram os momentos mais marcantes dos concertos a que fui.

O primeiro era ter ouvido a Morrer em Português ao vivo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, em 2015. A música não era presença habitual em setlists e fui a jovem adulta mais feliz daquele coliseu quando começaram os primeiros acordes da música.

O segundo também aconteceu no Coliseu dos Recreios, mas em 2020, quando, no concerto inserido no ciclo de espetáculos Às Vezes o Amor, tocaram Essa Fada, uma das minhas músicas preferidas, que nunca tinha ouvido ao vivo.

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Limitava-me a estes dois, com a certeza de que tinha sido muito bonito ouvir a Pronúncia do Norte duas vezes na Maia, mas que faltava mesmo ouvi-la no Porto. Seria impactante? Seria tão bonito? Mais bonito? Menos bonito?

Operação STOP: 45 anos no Coliseu

Como jeito de comemoração dos 45 anos de banda, os GNR organizaram a Operação STOP, com quatro concertos de comemoração divididos entre os Coliseus do Porto e de Lisboa. Para nós, comprei bilhetes para a primeira data do Porto. Quinta fila, pronta para ver mais um concerto que devia ser de lugares sentados com um público que certamente tem vontade de dançar.

No início vem a confusão. As cortinas abrem-se e aquelas pessoas que estão no palco não são todas as que é suposto estarem. Depois vem o reconhecimento. Os filhos do Jorge Romão, do Rui Reininho e do Toli César Machado ocuparam o lugar dos pais para a primeira música, Espelho Meu. Entre o fim da atuação destes novos GNR e a entrada em palco dos velhos GNR a ovação que deixa o Coliseu do Porto de pé mostra que, na verdade, todos nós estamos ali para comemorar aquele grupo. Honestamente, devíamos ter percebido que aquele início se refletiria em tudo o que íamos viver a seguir. Foi muito raro usarmos as cadeiras do Coliseu — mas pelo menos deu jeito ter onde pousar as coisas.

Ao longo de duas horas, cantámos e dançámos as músicas que já sabemos de cor há anos. Não faltaram os saltos de Sub-16, as palmas para Sangue Oculto, o pezinho de dança para Quero Que Tudo Vá P’ró Inferno, a letra totalmente adulterada para Popless, as lágrimas para Pronúncia do Norte. Nestas duas horas, houve uma união bonita à volta da celebração da música.

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Tenho, claro, de deixar registado que foi a atuação da Pronúncia do Norte mais bonita que já vi. Acho que o impacto de cantar esta música em plenos pulmões no Porto é diferente de a cantar em qualquer outro ponto do país, mas ali senti mesmo que estava a sair das maiores profundezas dos nossos seres. Estávamos a cantar com alma.

Pronúncia do Norte, na verdade, foi protagonista por uma segunda vez quando, no fim do concerto, Pedro Ribeiro subiu ao palco para uma pequena introdução em relação a uma surpresa que a Rádio Comercial tinha preparado: 29 artistas nacionais fizeram uma versão de Pronúncia do Norte, num vídeo com imagens bonitas do norte e com as vozes de artistas como Rui Veloso, Os Quatro e Meia, Napa, David Fonseca e Isabel Silvestre — sim, a Isabel Silvestre e o Grupo de Cantares de Manhouce voltaram a interpretar o tema. Um momento muito bonito e emotivo.

Ao longo dos anos, sinto que já fui a vários concertos de comemoração de anos de carreira dos GNR, mas a verdade é que nunca vi uma festa tão bonita quanto esta. Mais do que uma comemoração dos 45 anos, o Porto sabe fazer uma festa muito acolhedora e livre. Ali, sentimos que os anos podem passar, mas a disponibilidade para dar um pé de dança naquela festa ainda é a mesma. Já não é a música que os mais velhos ouvem. É a música qu une gerações, diferentes faixas etárias, diferentes relações. Se calhar ainda todos achamos que mais vale nunca mais crescer, mas pelo menos deram-nos asas para voar, para sonhar, para planar. E agora esperamos apenas dançar tanto ou mais quanto formos celebrar os 50 anos.


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