O Júlio Machado Vaz é, sem saber, uma das minhas melhores companhias de domingo, juntamente com a Inês Meneses. Ultimamente, até no Old Friends, programa que faz com Manuel Sobrinho Simões, tenho encontrado refúgio. A sua sabedoria, resultado do muito que já viu, viveu e acompanhou, não deixa de me fascinar e a sua disponibilidade, a generosidade das suas partilhas e a sua compaixão tornam-me uma ouvinte atenta, muito para lá da paixão que ambos partilhamos pelos Beatles.
Curiosamente — ou talvez não —, apesar de gostar muito de o ouvir ainda não me tinha aventurado a lê-lo para lá do livro d’O Amor é. Também não achei que fosse lê-lo logo que Outonecer saiu, mas acabei por ir à apresentação do livro, em julho, no Rivoli, e percebi que o livro teria de vir cá para casa mais cedo do que o esperado.
Outonecer é uma reflexão sobre o envelhecimento e o medo que provoca, mas também uma ode às outras estações da vida, da primavera ao verão. Com o passado, o presente e o futuro bem notórios, Júlio Machado Vaz lembra os que já não estão e saúda os filhos e os netos e o futuro que também lhes pertence. Isto enquanto refleta também sobre a atualidade sociopolítica, a sexualidade e a inteligência artificial.
Em espírito, pelo menos, todos os Machado Vaz se sentaram e riram à volta daquela mesa, cañas, estórias e projectos em punho. Nada me dá mais prazer, sou um Outono rodeado por Verões e Primaveras. Melhor ou pior, fiz o meu papel – ser um apeadeiro ou gavinha para o crescimento da tribo.
Outonecer é um livro muito instrospetivo, com uma escrita fluída, numa partilha generosa e simples sobre os receios de quem envelhece, as memórias que queremos guardar e a visão do futuro quando parece que nos sobra mais passado do que futuro. Mesmo ainda estando no verão da vida, senti que Outonecer é uma leitura tão bela e necessária para mim como para quem estiver a aproximar-se do outono ou quem já estiver a vivê-lo. Certamente tiramos reflexões e conclusões diferentes do que lermos, mas talvez a beleza do livro esteja mesmo na certeza de que nos trará algo diferente dependendo da altura da vida em que o lemos. É um daqueles livros aos quais sabemos que teremos de voltar. Gostei muito, muito, muito deste livro.
Título original: Outonecer
Autor: Júlio Machado Vaz
Ano: 2025
Lido entre 7 e 11 de agosto de 2025
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