fazer as pazes com o calendário

daylight|diário de sofia

Talvez seja um dos meus toxic traits, mas admito que às vezes sou verdadeiramente adepta de um bom isolamento. Curtir a solidão, não responder a mensagens durante horas, parar e reagrupar para pensar ou simplesmente para tentar organizar pensamentos e recuperar energia. Quando tudo à minha volta fica demasiado barulhento, fecho-me na busca de silêncio. Este mês de pausa em publicações foi precisamente para tentar encontrar silêncio que me permitisse lidar com o barulho constante que tem habitado na minha mente por causa da escrita e que precisava de ser direcionado para as respetivas gavetas.

Como estamos entre amigos, vou abrir o jogo: estava a precisar de parar de criar por sentir obrigação com calendário (já falamos melhor sobre isto) e ganhar silêncio para poder criar por criar. Não me interpretes mal: sou a primeira a defender rotinas de escrita, mas, numa altura em que sinto que estou a entregar abaixo da minha qualidade, a rotina pode ser a pior inimiga da criação. É um bocadinho aquela ideia de: com tanta coisa a acontecer, se não parares como é que vais conseguir processar as quantidades absurdas de informação que te chegar diariamente?

Além disso, sentia que estava realmente a precisar de reagrupar, caso contrário ia acabar por me sentir limitada ou presa numa teia sem fim de temas aos quais não conseguia dedicar atenção porque não fazia tempo para eles. Uma dessas coisas era uma questão existencial: não está já na hora de juntar o site e o blog? Depois havia outras: qual a periodicidade que consigo mesmo cumprir?, posso mudar coisas que mal comecei?e se parar de resistir e tornar isto aquilo que já é? e mais uma ou outra coisa que impedia o silêncio. Então parei e dediquei-me a responder a estas perguntas.

Site, blog, ambos?

Inicialmente, os propósitos eram diferentes e não queria misturar o blog com algo claramente destinado a ser profissional, um repositório de currículo e portefólio. No entanto fui percebendo que talvez fizesse sentido ligá-los de alguma forma — até porque o blog é um excelente exemplo de portefólio vivo e em atualização constante. Fui adiando esta tarefa porque nunca é só passar tudo para um lado, exige sempre trabalho de bastidores e havia uma certa preguiça em fazê-lo.

O meu primeiro foco foi, então, migrar o conteúdo do blog para o site e, depois, torná-los visualmente apelativos — o que me fez explorar uma nova paleta de cores para estes projetos digitais, muito mais viva e animada. Depois aproveitei e atualizei o conteúdo de algumas páginas e eventualmente irei dar um toque em publicações que recebem mais visitas e que podem ter ficado desconfiguradas ou até excluir uma ou outra publicação que já não faça sentido.

Para mim, neste momento não faz sentido ter um blog e um site como entidades separadas, principalmente tendo em conta que pretendo fazer carreira em áreas dedicadas ao conteúdo. Tenho um portefólio de conteúdo feito para empresas, sim, mas o meu maior portefólio reside no conteúdo que faço na internet, que tem mais de uma década de evolução.

Também não faz sentido tê-los separados porque, embora ainda tenha de lidar com síndrome de impostor, acho que neste contexto encaixa melhor um tipo de conteúdo que quero fazer mais: falar sobre as vertentes profissionais em que trabalho, desde a comunicação ao marketing. Faz-me mais sentido num contexto agrupado do que separado. Embora ainda não saiba a partir de quando nem como irei fazê-lo, o Marketing e a Comunicação são áreas que quero que passem a figurar naquilo que vou fazendo no blog.

Dentro do que atualizei, se quiseres espreitar:

  • Conta-me Histórias, o projeto de contos que tive entre 2019 e 2020. Agora todos os contos estão finalmente juntos na mesma páginas, com ligação a cada episódio e respetiva publicação de bastidores. 
  • Desengatados, o projeto de autoficção em formato blogcast sobre aplicações de encontros, que estava a ter problemas de sincronização e não estava a mostrar os episódios. 
  • Sobre, que é a página que mais crises de identidade me provoca, porque parece que nunca sei o que dizer. 

Um novo segmento na newsletter

Não o fiz em julho já a pensar numa reestruturação, mas finalmente cheguei à conclusão do que quero realmente de uma rubrica mensal no Substack: quero uma rubrica dedicada a livros e, por isso, criei uma secção chamada A Viver Nas Páginas De…, onde o objetivo será falar do mês que termina e do mês que começa tendo como fio condutor a literatura e, com isso, ter todos os meses reviews-relâmpago dos livros que li naquele mês. Se forem leituras em que tenho mais pensamentos a partilhar, escrevo mais detalhadamente aqui no blog também, se são livros que não geram tantas conclusões fica um registo curto e mais imediato.

Desta forma, não há um cruzamento tão direto entre as coisas que iluminaram o mês que vou partilhando no blog e esta rubrica mensal do Substack. Embora possa haver pontos comuns, acho que, da maneira que estava a testar anteriormente, ia acabar por me repetir e a ideia não é essa. Para já, este segmento será apenas mensal. No futuro logo se vê se faz sentido trazer outro tipo de conteúdo literário para a newsletter. Na sexta-feira, dia 15, sai a edição correspondente a julho e, a partir daí, todos os dia 1 haverá uma nova edição.

Fazer as pazes com o calendário

Talvez não acreditasses se visses as publicações já preparadas para as próximas semanas, mas tenho andado a tentar fazer as pazes com o calendário… ou com aquilo que gostava de ter no calendário. Tem sido frustrante sempre que não consigo cumprir aquilo que idealizo e, por isso, tenho vindo a perceber que preciso de ajustar as minhas expectativas e aquilo que me comprometia a fazer online.

Sei que, provavelmente, só eu é que me cobro nestas coisas, mas a verdade é que me custa, por vários motivos, sentir que não tenho tempo para as minhas coisas. Precisava de fazer as pazes com isto, mas também com o facto de isso não significar que estou a falhar. Decidi, mais para o meu bem do que outra coisa, que só vou fazer por cumprir a newsletter de domingo e uma publicação por semana. Se conseguir mais do que uma (o que vai acontecer nas próximas semanas), espetacular. Se não conseguir não faz mal, tenho de ser mais compreensiva comigo.

A verdade é que a newsletter acaba por ser o espaço onde brinco mais às crónicas e o blog tem ficado muito preso a reviews de livros. Embora, por um lado, esteja cada vez mais pacificada com o facto de que ler muito implica ter muitos livros sobre os quais quero falar, também tenho de admitir que a ideia das reviews-relâmpago mensais vem um bocadinho para aliviar esta sensação de que me falta falar de tantos livros.

Por outro lado, sei que estabelecendo uma publicação por semana isto vai aliviar-me em alturas mais complicadas, tendo sempre como backup alguma review, mas também me pode permitir explorar de forma mais alongada e aprofundada os livros ou mesmo brincar com outros temas para publicações extra. É quase efeito placebo, mas se só me comprometi com uma publicação não me vou sentir em falta quando não conseguir criar três ou cinco por semana e acho que tirar esse peso de cima pode ser uma boa ajuda criativa.

Salvar a criatividade?

É possível que este seja o tema mais recorrente na minha escrita sobre escrita, mas, enquanto não descobrir a fórmula milagrosa para conseguir escrever nos meus projetos pessoais de forma perfeitamente harmoniosa em relação à vida profissional, acredito que o será durante muito tempo da vida. Para mim, que trabalho a maior parte do meu dia com coisas que envolvem criatividade, é muito difícil ter sempre espaço mental para criar para os meus projetos. Há dias em que acho humanamente impossível chegar a casa e conseguir escrever duas frases sobre qualquer coisa, tal é o estado de cansaço mental em que chego. E como já passei por um burnout tenho tentado proteger-me e proteger o meu descanso.

Claro que mentiria se dissesse que faço isto de forma natural e de ânimo leve. Durante muitos anos achei que trabalhava muito nos meus projetos e a frustração quando não via os frutos que achava justos prendia-se com essa ideia de estar a trabalhar tanto para eles que sentia que merecia mais resultados (fossem lá os resultados o que quer que fossem). No entanto esta minha postura de proteção e de descanso mental tem-me levado a pensar que, agora, não trabalho o suficiente nos meus projetos e é por isso que eles não dão os resultados que idealizo. Sim, cobro-me demasiado, acho que é uma conclusão que podemos tirar deste texto. Mas a verdade é que para conseguir sentir que estou a trabalhar o suficiente para os meus projetos preciso mesmo de ter tempo de descanso mental — caso contrário isto vira pescadinha de rabo na boca e acho que não estou a entregar qualidade suficiente e yada, yada, yada.

E enquanto tento ser mais permissiva e, acima de tudo, mais compreensiva comigo tento também lembrar-me de que, no final do dia, se dá mais dores de cabeça do que gozo então não vale a pena. Isto é válido para muitas coisas na vida e, neste caso, é mesmo importante porque eu quero e sempre quis criar conteúdos na internet porque é algo que me dá mesmo muito gozo, porque é uma área que me apaixona, porque a escrita é aquilo que mais gosto de fazer na vida… não quero, em nenhum momento, sentir que me dá mais preocupações, mais dores de cabeça ou mais ansiedade do que tira. E sei que é algo em que tenho de trabalhar, mas é também assim que sei que estou a tentar dar o meu melhor. Fazer o melhor que sei com aquilo que tenho. E estou mesmo a tentar. É abraçar uma nova era.

3 comentários

  1. Oi, Sofia! Que bom que você voltou! Seja bem-vinda de volta!
    Lembrei de você, senti sua falta nos últimos dias, suas newsletters no meu e-mail… então imaginei que você tivesse tirado um tempo, umas férias, e me despreocupei, acho que me lembro vagamente de você falando que ia tirar esse tempo nos últimos textos, como eu acho que já é costume seu tirar um tempinho para si e respirar um pouco fora daqui, viver, nessa época do ano. Seu blog é uma referência, você e seus textos, uma inspiração pra mim. 💕 É bom ter alguém que ainda resiste e sobrevive, que é frequente e posta com regularidade aqui no mundo dos blogs em quem nos inspirar.
    Até as próximas publicações. Boa tarde!

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