Uma das formas mais fascinantes de ver o ser humano é compará-lo a um mundo. Sempre gostei desta ideia de que cada pessoa é um mundo, um pequeno mundo que, em colisão com outros pequenos mundos, torna tolerável a existência no resto do mundo. Se calhar é uma visão um tanto romantizada e idealista, mas não é mesmo bonito pensar na música dos INX e sentir que há mesmo esta pequena colisão de mundos? Small Worlds, o segundo livro do Caleb Azumah Nelson, traz-nos uma destas histórias de mundos que orbitam em volta uns dos outros e o impacto das suas colisões.
Passado ao longo de três verões — 2010, 2011 e 2012 — Small Worlds acompanha o fim da adolescência e início de idade adulta de Stephen, um britânico-ganês a viver no sul de Londres, apaixonado por música e dança — a dança é, aliás, como ele diz, uma das coisas que pode solucionar todos os seus problemas. Além das mudanças óbvias de estar a terminar o ensino secundário, Stephen depara-se também com questões relacionadas com família, herança cultural e a sua própria evolução.
Mum tells me this is the place where she sought solace when she first arrived in the UK. She struggled to feel at home, but in the cinema she always felt less lonely, seated in a room full of strangers, with nowhere to go but the world on-screen and her imagination. It felt less like she was retreating into herself, and more like she was going forward, expanding her world.
O Caleb Azumah Nelson deve ser um dos escritores mais fascinantes da atualidade. A escrita melódica, claramente influenciada pela música, resulta na perfeição com os pontos de vista únicos e de uma beleza ímpar que as personagens transmitem. No caso de Small Worlds, acho que a estrutura é ainda mais propícia a nos envolvermos com várias dimensões da personagem principal. O primeiro verão é o verão da rotura, da rebelião, o momento em que entra em conflito com os ideais familiares. O segundo verão é pautado pelo luto, mas também pelo papel da vulnerabilidade masculina, do silêncio e do sofrimento pessoal e geracional. E o terceiro verão é o que traz alguma sensação de regresso a casa, a si, aos seus.
Como já tinha acontecido em Open Water, o livro tem um ritmo pautado pela música, tornando-a quase uma personagem também, uma espécie de fio condutor entre verões e entre sentimentos e momentos de cada verão.
Acho sempre algo injusto quando voltamos a um autor depois de lermos um livro que amamos porque sinto que o limitamos à partida pelo simples facto de ser quase impossível não entrarmos em comparações. Gostei muito daquilo que Small Worlds promove como reflexão, principalmente a ideia de cada mundo com que lidamos nos moldar também. É um livro emocionante, mas também dotado de uma beleza muito particular, algo que me atrevo a dizer que poderá muito bem ser imagem de marca do autor.
Além disso, a abordagem da vulnerabilidade masculina é algo não só necessário mas também importante de ser vista. Mais do que isso, quando é feita de forma tão brilhante, onde não se oferecem finais milagrosos ou irrealista, esta abordagem consegue relatar na perfeição aquilo que pretende mostrar. O Caleb Azumah Nelson é dos escritores que mais curiosidade tenho em acompanhar no futuro e este livro só confirma essa vontade.
Título original: Small Worlds
Título em português: Pequenos Mundos
Autor: Caleb Azumah Nelson
Ano: 2023 (PT: 2024)
Lido entre 26 de maio e 2 de junho de 2025
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